Artigo
"Onde há música não pode haver coisa má"
Por Paulo Rosa
Médico do SUS no Hospital Espírita, Caps Porto e Telemedicina PM Pelotas
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É de Cervantes a citação acima. É tal o peso do sábio espanhol que, merece lembrarmos, Freud estudou seu idioma para poder lê-lo no original. A recordação veio em função do presente Festival Internacional de Música de Pelotas, das maiores produções culturais do País, talvez da América, promovida pelo Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, agora em sua décima segunda edição anual. A expressão cervantina condensa toda uma filosofia de integração entre países, bem como de alunos, professores, mestres, comunidades, religiões, hospitais, bairros, clubes, restaurantes, praia. É um universo mobilizado pela música e acolhido, cultivado, vivido por Pelotas, parceria estimulante entre iniciativas privadas e poder público. São desses dias em que Pelotas mais se horizontaliza, no sentido de que diminui ao máximo as diferenças entre pessoas ou entre grupos.
Também universal é o espectro de abrangência das apresentações, com extensões ao circo, através do nosso extraordinário Grupo Tholl, ou à dança, com a dupla J. Bonho e A. Camargo, um plus nos recitais de música sul-americana, com o grupo Yangos e o mestre maior Lucio Yanel. Mas vai além. Se, em um extremo clássico contamos com a ópera Il Pagliacci, de Leoncavallo, que data dos anos 1890, em Milão, na outra ponta, samba de gafieira com um afinadíssimo Sexteto Gaúcho, que fez um espetáculo inesquecível no restaurante Nave. Entre os extremos há toda sorte de conjuntos musicais, de música de câmara a recital de cordas, piano, canto lírico, metais, madeiras, grupo de choro, bandas, orquestras.
Desde outro ângulo, a beleza da música é terapêutica. Não apenas no sentido amplo, como expressão do belo de uma arte, mas, inclusive no sentido estrito, como musicoterapia. Tenho grata recordação de um trabalho de mestrado na UCPel, realizado pelo amigo e compositor Ivanov Basso, a quem tive a sorte de supervisionar, em que ele aplicou, em quarenta sessões, uma técnica musicoterápica com substrato analítico, com expressiva melhora, observável em registros empíricos, antes e depois do tratamento de uma senhora depressiva grave. No estudo de caso único, por ele publicado, observa-se a melhora consolidada no acompanhamento da paciente, no pós-tratamento prolongado.
Em Psicología de la Música y del Desarrollo, Paidós, Buenos Aires, 2016, a psicóloga e pesquisadora argentina Silvia Español faz uma abordagem interdisciplinar sobre a musicalidade humana, revelando que "la musicalidad brota de nuestro pasado filogenético...define nuestro modo de movernos, de hablar, de estar con otros...la musicalidad es el abrigo para la...inmadurez prolongada del bebé humano: fruto de una sabiduría...culturalmente tramada...a través...de la melodía del habla materna..."
Vai para Cleonice Bourscheid e Evandro Matté, duas entre mil almas do Festival de Música FecomércioRS/Sesc/Senac, Pelotas.
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